A Pac-12 confirmou oficialmente, na noite desta terça-feira (24), a entrada de Utah State na conferência. Os Aggies serão o 7º integrante da Pac-12 a partir de 2026, a qual ainda precisa de mais um membro para se manter com o status de conferência de 1ª divisão.
Porém, aqui estamos contando a história pelo “final” (pelo menos até o momento). Nos últimos dias, uma série de movimentações envolvendo Pac-12, Mountain West e American balançou os bastidores do College Football, com seu ápice ocorrendo nesta segunda-feira (23), possivelmente um dos dias mais caóticos da história no realinhamento de conferências. No dia seguinte, irrompeu de maneira mais nítida uma guerra entre Pac-12 e Mountain West, com a primeira acionando a segunda na justiça.
Neste post, vamos explicar especificamente o que ocorreu nestes últimos dias nesse cenário caótico. Vamos lá:
O caos da segunda-feira
Depois de conseguir a adesão de quatro programas, a Pac-12 voltava as suas atenções para leste, especialmente para os times da American. Os programas mais visados pela conferência eram Memphis, UTSA, Tulane e South Florida, com as quais a conferência da costa oeste teve fortes conversas e convidou-as para entrar na Pac-12. Porém, as quatro equipes anunciaram, em pronunciamento conjunto, as suas permanências na American.
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Muito está no terreno da especulação, mas alguns dos motivos para a recusa seriam as incertezas que pairam sobre a Pac-12 (que estima um novo contrato de TV em torno de 10 a 15 milhões de dólares por faculdade, mas ainda não sentou para negociar com as empresas de TV), com um contrato que tende a ser pouco superior ao que esses programas já recebem na American, além dos longos deslocamentos para jogar contra times da costa oeste. Além disso, as altas taxas para saída da AAC, em torno de 27 milhões de dólares por faculdade, também foram um desestímulo. Se formos para a área da especulação, é possível apontar também a possível espera desses programas para ver o que irá ocorrer na ACC, uma conferência geograficamente mais próxima que faz parte do Power 4 e vive um cenário incerto, com Florida State e Clemson acionando a ACC nos tribunais para deixar a conferência.
O anúncio conjunto e enfático da American decepcionou algumas das bases de fãs de universidades envolvidas, sobretudo a de Memphis. O novo comissário da American, Tim Pernetti, prometeu acelerar a busca de maneiras para aumentar os ganhos financeiros para as faculdades da conferência, de forma a tentar igualar as projeções feitas para o seu possível contrato futuro da Pac-12.
Com os times da American indisponíveis, a Pac-12 voltou novamente as suas atenções para a Mountain West. Turbinada com os mais de 100 milhões de dólares (em tese) que irá receber da Pac-12 em multas pelas saídas de Boise State, Colorado State, Fresno State e San Diego State, a Mountain West fez um plano para redistribuir esses recursos com as faculdades remanescentes e estabeleceu um prazo-limite até a tarde de segunda-feira para firmarem um novo acordo e manterem seu compromisso com a conferência. A ideia era clara: fechar rapidamente uma janela que havia sido aberta com as saídas do dia 12 de setembro, impedindo novas saídas.
Quatro faculdades foram sondadas pela Pac-12: UNLV, Air Force, San José State e Utah State. As três primeiras recusaram e, a princípio, mantiveram seu compromisso com a Mountain West. Utah State, por sua vez, resolveu aceitar o convite para ingressar na Pac-12 e quebrou a unidade da conferência.
Com isso, a situação temporária é a seguinte: a Pac-12 vai para 7 membros e ainda não possui o número mágico necessário para continuar existindo a partir de 2026. Porém, agora a Mountain West também não tem 8 membros. A conferência tem, nesse momento, 6 membros plenos (Air Force, Nevada, New Mexico, San José State, UNLV e Wyoming) e uma equipe só no futebol americano: Hawai’i (os Rainbow Warriors jogam na Big West nos demais esportes). Precisa, portanto, de pelo menos mais uma equipe no futebol americano e duas no basquete para não entrar na mesma situação da Pac-12 a partir de 2026.
Ainda durante a tarde de segunda, insiders relevantes do universo do College Football chegaram a reportar a adição de Gonzaga à Pac-12. A faculdade do estado de Washington ingressaria em todas as modalidades as quais possui, o que inclui um forte programa de basquete, mas sem programa de futebol americano (a equipe fechou seu time na modalidade em 1941). Horas depois, entretanto, a história foi desmentida por outras fontes. O que se sabe é que, de fato, houve fortes conversas entre Pac-12 e Gonzaga, mas que não foi acertado nada de maneira oficial.
“Fale com os meus advogados”: Pac-12 entra na justiça contra a Mountain West
A disputa entre Pac-12 e Mountain West também vai para os tribunais. Na tarde desta terça (24), a Pac-12 entrou com uma ação legal na corte de justiça do distrito do norte da Califórnia questionando uma das penalidades que a Mountain West estabeleceu no contrato esportivo firmado com a Pac-12 para 2024. Neste contrato, a Mountain West teria inserido uma cláusula adicional com multa de 10 milhões de dólares para cada universidade que deixasse a conferência em direção à Pac-12, aumentando em 1 milhão para cada equipe adicional.
Para a Pac-12, a inserção dessa cláusula seria ilegal e violaria leis antitruste. Além disso, alega que seria uma espécie de “pagamento duplo”: a Mountain West já tinha anteriormente estabelecido uma taxa de 17 milhões de dólares por faculdade que saísse, aspecto que foi fator-chave para, inclusive, impedir a Pac-12 de se reconstruir após as saídas de USC e UCLA, quando a Pac-12 ainda contava com 10 membros. A Pac-12 alega que a Mountain West estaria tentando “impor taxas milionárias em saídas de times da conferência”, afirmando que o valor de 17 milhões por faculdade já seria uma compensação suficiente para a Mountain West.
Em sua defesa, a comissária da Mountain West, Gloria Nevarez, afirmou em nota oficial que as taxas inseridas pela Mountain West visavam justamente evitar a situação atual. Além disso, aponta que o contrato firmado entre Pac-12 e Mountain West teve total conhecimento e concordância das suas duas integrantes e afirma que o desejo era o de “ajudar a Mountain West, mas não às custas da conferência”.
A comissária da Mountain West, Gloria Nevarez, elaborou uma nota oficial sobre o processo que a Pac-12 resolveu mover contra a Mountain West contra possíveis violações de leis antitruste.Segundo ela, o contrato elaborado com a Pac-12 era justamente para evitar a situação atual.
— CollegeCast (@collegecast.com.br) 2024-09-25T02:31:22.244Z
O contrato firmado entre Pac-12 e Mountain West também prevê um pagamento de 14 milhões de dólares por 12 jogos com Washington State e Oregon State (seis para cada) para 2024. O valor, que dá uma média superior a 1 milhão de dólares por partida, é considerado acima da média do que é pago para confrontos fora das conferências. Para 2025, a Mountain West queria mais que o dobro: em torno de 30 milhões de dólares. Isso levou à recusa de Oregon State e Washington State, que ainda precisam fechar metade dos seus calendários para o ano que vem.
A Pac-12 alega que fechou o contrato com a Mountain West em uma situação bastante desfavorável, quando precisava urgentemente fechar calendários esportivos para os seus programas e tinha poucos meses para negociar. Por essa razão, teriam aceitado o contrato mesmo sabendo que a colocação de taxas adicionais era ilegal, segundo a Pac-12.
E agora, José?
A guerra aberta entre Pac-12 e Mountain West explica muito os motivos de não ter ocorrido uma fusão. Tudo bem que não há amigos quando se trata de negócios e interesses políticos e econômicos, mas nitidamente a Mountain West se aproveitou da fragilidade da situação de Oregon State e Washington State para ganhar financeiramente e forçar uma fusão reversa nos seus termos. Percebendo o truque, a Pac-12 escolheu se reconstruir por conta própria e utiliza todas as armas à sua disposição: o convencimento para tirar times da Mountain West e o jurídico para mitigar prejuízos e evitar que a sua frágil situação gere aproveitamento por outras partes.
Falando apenas no aspecto do convencimento, Utah State complicou um pouco as coisas para a Mountain West. O acordo que a Mountain West queria firmar para permitir pagamentos adicionais aos seus membros remanescentes tinha como pré-requisito a manutenção do status de uma conferência com pelo menos oito integrantes. Com a saída de Utah State e a redução do número de times da Mountain West para sete, UNLV já teria cogitado reconsiderar a sua posição. Há pressão interna para que a universidade, situada em uma das cidades com maior crescimento econômico nos últimos anos, troque de conferência, e segundo alguns analistas, a faculdade é a peça-chave para definir o futuro tanto da Pac-12 quanto da Mountain West.
Caso saia, a Mountain West ficaria reduzida a seis integrantes, o que poderia levar Air Force a também reconsiderar sua posição. Segundo fontes, a academia militar está em conversas com a American, que já possui outras duas academias militares: Army e Navy. Uma deterioração da situação da Mountain West poderia levar o programa a reconsiderar mais fortemente a sua posição. Em um caso extremo, mas pouco provável, a Mountain West pode ser dissolvida com voto favorável de 9 dos 12 integrantes, o que livraria as outras conferências de terem que pagar taxas e multas pelas saídas dos programas.
Porém, a saída de UNLV da Mountain West pode encarar obstáculos. UNLV compartilha do mesmo conselho de regentes, órgão deliberativo que toma as decisões relevantes da faculdade, com Nevada, programa de baixo interesse para um realinhamento. Não se sabe exatamente até onde seria aceita uma proposta que permita a ida de apenas um programa, com o outro ficando para trás. Além disso, UNLV pode ser convencida a ficar pelos valores que a Mountain West pretende pagar, já que provavelmente a conferência também fará reposições. O processo judicial movido na justiça pela Pac-12 também visa reduzir o valor que precisa pagar à Mountain West, o que faria o incentivo financeiro ser menor para quem ficar.
Caso UNLV entre na Pac-12, a conferência finalmente chegaria ao número mágico de oito integrantes e finalmente poderia pensar em futuras adições com mais tranquilidade. Além das especulações de Gonzaga só para o basquete, UConn é cogitada somente para o futebol americano como forma de ter oito jogos dentro da conferência. A partir daí, poderia sentar para negociar um contrato de TV que permita finalmente garantir a sua sobrevivência e continuidade de 2026 para frente.
Mas até lá, muita água vai rolar. Há um jogo de xadrez sendo jogado e só saberemos o resultado mais pra frente.